quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Uma pintura sólida, de conceito, de valores…

Uma pintura sólida, de conceito, de valores…

A figura humana, e consequentemente o rosto e o corpo, são os países em que assentam esta talentosa série de obras, aqui reunidas com o nome de REMIND 25.
Poderemos designá-los (poe que não?) por castelos humanos, qual fortaleza possuidora de uma magia que reflecte emoções e os mais plurais sentidos construídos com garra e determinação.
Os corpos, essencialmente o feminino, criados por Fernando Gaspar, transmitem acima de tudo grande sensibilidade, originando ao observador, mesmo ao mais resistente, uma grande vontade em tocar ou entrar corpo adentro, qual labirinto do desejo que nos inquieta e agita.
De lá – da interioridade da pintura – quase que surgem vozes apelativas e acenos como que a lançar um desafio, o repto do diálogo certeiro entre a obra e quem a vê e sente; os corpos, aqueles corpos, prendem-nos, amarram-nos umbilicalmente.
É um trabalho a que não se consegue ser indiferente e que obriga a uma reflexão, retendo na memória as metamorfoses (é assim que entendo parte desta pintura) do rosto.
Fernando Gaspar enceta uma curiosa viagem pelo retrato, abordando-o nas mais diversas, mas interessantes perspectivas, que nos proporcionam, como já referi, um questionamento sobre a origem humana. Quem somos? Para onde vamos? E muitas questões que o pintor, voluntária ou involuntariamente, nos coloca através das suas telas de grandes dimensões. A qualidade da pintura, que agora aqui se nos apresenta, é indiscutível, mas, mais que o gesto, a composição é rigorosa e perfeita, capaz de nos mostrar o outro lado do homem, neste caso, o lado de dentro que, a meu ver bem, pinta, pintando-se.
No entanto, e como fica provado pelas mais variadas obras que constituem esta exposição, a pintura de Fernando Gaspar não vive apenas de auto-representações, mas também da representação do outro, do corpo do outro, concretamente do corpo feminino.
Com grande liberdade de gesto (sente-se essa atitude, significativamente) o pintor faz nascer corpos, de mulheres, de rara beleza, mas transmitindo grande sensibilidade e sensualidade. A pintura, esta pintura é, assumidamente, criada com grande rasgo e cumplicidade de quem não é indiferente à beleza feminina, e muito menos à criação de uma pintura sólida, de conceito, de valores.
A obra de Fernando Gaspar resulta numa feliz ligação, cúmplice, entre o rigor da arte e a liberdade no gesto, a beleza do modelo e a concepção da forma e da cor.

Agostinho Santos

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